Postagens populares

domingo, 3 de julho de 2011

PINHEIROS DA SUSTENTABILIDADE, 451 ANOS DA ALDEIA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DOS PINHEIROS

COTIA NÃO MORREU, OS PIONEIROS DO COOPERATIVISMO E DA SUSTENTABILIDADE EM SÃO PAULO


Assim como não morreram Elvis Presley, Airton Senna, outros também entrarão na lista de ícones da história da humanidade.

Por simbolizarem épocas, estilos de vida, qualidades extraordinárias, algumas pessoas, sobretudo jovens, perdem o direito de morrer e tornam-se ícones.

É o que penso da Cooperativa Agrícola de Cotia (CAC).

No início do século passado, quando imigrantes japoneses que não se adaptaram às condições de mão de obra assalariada em fazendas de café vieram se fixar nas cercanias de São Paulo, formando associações de produtores, era difícil imaginar o tamanho do impulso que dariam à agricultura.

Em 1927, num desses embriões, 83 nipônicos fundaram a Sociedade Cooperativa de Responsabilidade Limitada dos Produtores de Batata em Cotia. Começava aí a saga de um dos mais importantes vetores para o Brasil tornar-se potência agrícola mundial.

Mais importante do que a EMBRAPA, por ter nascido quase 50 anos antes, e ter enfrentado as dificuldades naturais do pioneirismo em terra e língua estrangeiras, as agruras do regime de semi-escravidão nas plantações de café e o período de perseguição e supressão de direitos durante a Segunda Guerra Mundial.

São poucos os grandes centros atuais de produção agrícola que não tiveram a CAC em sua origem: o primeiro assentamento no Cerrado, em São Gotardo (MG); os projetos de irrigação no Vale do São Francisco; a produção de maçãs em São Joaquim (SC); a de pimenta do reino em Tomé-Açú, no Pará.

Primeiro, partiam os núcleos familiares; depois, os técnicos, as pesquisas em estações experimentais, os insumos e o crédito. Houve momentos em que a CAC teve um número de agrônomos superior ao do Ministério da Agricultura.

Estava ali a forma correta de se fazer reforma agrária, que a inexistência de planejamento agrícola pelo governo e o modelo exclusivista de grandes propriedades privadas deixaram escapar.

A CAC cresceu até tornar-se a maior cooperativa da América Latina. Há quem diga do mundo. Quase 30 mil cooperados. Em 1992, faturou US$ 1,1 bilhão e, em tudo o que se meteu, de forma direta ou através de subsidiárias, foi uma das maiores. Soja, trigo, milho, sementes de hortaliças, flores, fertilizantes.

Nesse formato, quebrou em setembro de 1994 com um passivo avaliado em US$ 900 milhões. Causas? Muitas. Desde a falta de ajuda do governo, agravada pela sucessão de planos econômicos desastrados entre os anos 80 e o início da década de 90, até a condescendência na concessão de créditos e na cobrança de dívidas dos cooperados.

Problemas de mau direcionamento estratégico e erros de gestão? Também. Não diferentes, porém, daqueles que, em 1995, justificaram o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Sistema Financeiro Nacional (PROER) ou, recentemente, rombos financeiros em empresas privadas como Sadia, Aracruz, Votorantim, para ficarmos apenas no plano interno.

Em abril deste ano, 15 anos após a quebra, foram retomados os leilões de seus ativos. Têm o peso de uma pá de cal. Apenas judicial, pois o ethos da CAC permanece incólume.

Presenciei isso acontecer em, praticamente, todo o Brasil. No Pará, ao visitar extensas plantações de palma; nos campos de soja de Balsas, no Maranhão; cruzei com agrônomos altamente especializados no cultivo de uvas para exportação em Petrolina (PE); em cafezais de Guaxupé (MG); em granjas de ovos de Bastos (SP); nas grandes empresas de comércio exterior.

Em qualquer lugar que você esteja tratando de agricultura encontrará pessoas que trabalharam na Cotia ou com ela tiveram negócios. Nos mais diversos cargos e hierarquias.

Nessas ocasiões, é invariável a conversa rumar para lembranças e conhecimentos mútuos. Como se, apesar do gigantismo da época, todos se conhecessem e convivessem intensamente. Da mesma forma que faziam os 83 imigrantes que a criaram.

Rui Daher é administrador de empresas, consultor da Biocampo Desenvolvimento Agrícola.

Nenhum comentário:

Postar um comentário